Artigo | Paulo Freire: Um semeador da esperança e da libertação

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A obra do educador é marcada por uma leitura crítica do mundo e das relações sociais

Ilena Felipe Barros
Brasil de Fato | Natal (RN) |

 

No dia 02 de maio, o mundo celebra a memória de Paulo Freire, um dos maiores educadores e intelectuais do século XX, um semeador de esperança e libertação. Toda sua vida e obra foram dedicados a processos de transformação social, a partir da leitura crítica do mundo e das relações sociais.

A sua obra está marcada por uma forte crítica a educação bancária que compreende o/a aluno/a como um saco vazio a ser preenchido de conhecimento e o/a professor/a aquela figura que detém todo o saber, inquestionável, absoluto e estático. Nessa perspectiva, o/a aluno/a é um ser que deve ser adaptado a sociedade vigente, sem criticidade, criatividade, dúvidas, curiosidade e/ou autonomia; num amplo processo de desumanização da pessoa. Assim, Paulo Freire e todos/as que o seguiram, passaram a criticar essa forma de educação tradicional.

Na perspectiva educativa freiriana está presente a emancipação e libertação dos sujeitos, a partir da superação das suas condições precárias de vida e do acesso ao conhecimento para, assim, desvelar a realidade vivida e transformá-la. Como ele mesmo afirmou na dedicatória de Pedagogia do Oprimido “[aos] Esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam” (FREIRE, 1983a, p. 17).

A educação em Paulo Freire é humanizadora, libertadora, criadora, criativa, singular, emancipadora, capaz de modificar o ser humano, ao passo que este se refaz, refazendo seu cotidiano e a realidade em sua volta. Tudo em mutirão, sempre com seus iguais, num sentido de identidade de classe social. Assim, o foco está no aprender e não no ensinar; no descobrir-se e desvelar o mundo; com uma metodologia participativa. Freire reflete conosco em Pedagogia da Autonomia “[…] uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor/a ensaiam a experiência profunda de assumir-se… como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar […]” (FREIRE, 2001, p.46).

Na obra Educação como Prática de Liberdade, Freire se refere a essa educação libertadora quando afirma “Expulsar esta sombra [opressão burguesa] pela conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma educação realmente libertadora e por isto respeitadora do homem [e da mulher] como pessoa” (FREIRE, 1983, p.37).

O educador revela, ainda, que a educação é um ato de amor, que se fundamenta no diálogo, na construção do sujeito e seu mundo, onde os seres se educam em comunhão, em relação com a experiência vivida. E afirma “[…] ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1983, p. 79). Aqui, Paulo Freire, expressa seu profundo amor pelos discentes e questiona os/as educadores/as “[…] como ser educador se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos como quem me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte?” (FREIRE, 1996, p.75).

A educação em Freire está situada na construção e reconstrução do ser individual, político e social. Educar na relação, no convívio, no diálogo, na experiência vivida; num ato de humanização. Logo, o processo de aprendizagem está centrado no sujeito e não no conteúdo; num esforço em construir as pessoas, humanizando-as e denunciando as raízes que fomentam as desigualdades sociais, políticas e econômicas. E faz a seguinte reflexão quando afirma “[…] outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo […] que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto no esforço de reprodução da ideologia dominante quanto no seu desmascaramento”. (FREIRE, 2001, p.110)

Dito isto, pode-se afirmar que essa concepção de educação para liberdade e emancipação da classe trabalhadora, orienta e inspira a atuação de várias experiências de educação e organização popular no campo e nas periferias das cidades; além de ter sido adotada por várias instituições de ensino público e privado. De fato, a presença da obra de Paulo Freire e seu exemplo vivo como educador, inspira e anima diversos militantes de movimentos sociais pelo mundo a fora. Seguir sua trajetória é lutar por um mundo, mais justo, social, político, econômico, cultural e ambientalmente sustentável.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
____________. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1983a.
____________. Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
____________. Ação Cultural para Liberdade e outros escritos. São Paulo: Paz e Terra, 1982.
*Ilena Felipe Barro é Assistente Social, Professora do Departamento de Serviço Social da UFRN; militante da Consulta Popular/RN; Rede de Educadores Populares/RN; Coletivo Leila Diniz; Articulação de Mulheres Brasileiras.

Edição: Hilder Andrade

Publicado originalmente em: https://www.brasildefatorn.com.br/2020/05/04/artigo-paulo-freire-um-semeador-da-esperanca-e-da-libertacao

 

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